quinta-feira, 23 de outubro de 2014

E o preço é salgado.

Salinização do Rio Paraíba do Sul afeta distribuição de água no Norte do RJ.


Imagem aérea mostra mar invadindo rio; água chegou salgada às torneiras.
Cedae precisou interromper captação da água por três dias.

Fotos mostram avanço da língua salina na foz do Rio Paraíba do Sul em São João da Barra (Foto: Welliton Rangel/ Comitê do Baixo Paraíba)

A bacia do Rio Paraíba do Sul enfrenta a pior estiagem já registrada nos últimos 84 anos. Mas além da seca, São João da Barra, no Norte do Rio de Janeiro, enfrenta ainda o problema da salinização, ou seja, a água do rio, no ponto de captação pela Cedae, está salgada, prejudicando a distribuição. O problema é provocado pelo avanço do mar sobre o rio Paraíba do Sul. Para tentar minimizar o problema, a Prefeitura de São João está usando caminhões-pipa para abastecer o primeiro distrito.Em imagens aéreas (foto acima), divulgadas pelo Comitê do Baixo Paraíba, é possível ver, em um primeiro momento, a água do mar (mais escura) ainda longe da foz do rio. Na segunda imagem, o mar já aparece tomando o leito do rio Paraíba do Sul, ainda em São João da Barra. Com a seca, o rio está medindo cerca de 2,20m. Nos períodos de cheia, a água chega a 4,80m, segundo a Defesa Civil do município.
Ficamos 3 dias sem poder captar a água, porque ela estava saindo salgada das torneiras."
Eleiton Meireles
Os efeitos da salinização estão sendo sentidos dentro de casa pelos moradores. A economia da pesca também não é mais a mesma na região. Cerca de 600 pescadores de água doce estão prejudicados por causa do baixo nível do rio, como aponta o subsecretário de pesca de São João da Barra, Eleilton Meireles.
“No último mês, ficamos 3 dias sem poder captar a água, porque ela estava saindo salgada das torneiras. Estamos tendo um prejuízo enorme por causa da salinização e da seca. Os pescadores já estão passando aperto porque a produção caiu em mais de 60% e muitos estão buscando alternativas em outros trabalhos. Atualmente, é impossível tirar o sustento apenas do Rio Paraíba. Nunca passamos por uma fase tão difícil assim. Isso não é alarde, é a realidade", lamentou Meireles.
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Prefeitura de São João da Barra precisou fazer o abastecimento com caminhões-pipa (Foto: Divulgação/Prefeitura de São João da Barra)Prefeitura de São João da Barra precisou fazer o
abastecimento com caminhões-pipa
(Foto: Divulgação/Prefeitura de São João da Barra)
A Cedae informou na tarde desta quinta-feira (23), por meio de nota, que não há paralisação do abastecimento e, sim, redução. Explicou ainda que nos últimos dias a companhia vem interrompendo a captação durante a maré alta, que acontece duas vezes ao dia. Disse também que "providências foram tomadas junto ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que está determinando a dragagem do Rio Paraíba do Sul no trecho de captação da Cedae". A medida visa resolver o problema, já que a dragagem “empurra” a língua salina para o mar, não permitindo que fique estacionada na captação.
Avanço da "língua" salina
Segundo pesquisadores, a língua salina já progrediu 5,5 quilômetros pelo rio adentro e os solos e lagoas do entorno já estão salinizados. A situação é preocupante e irreversível.

Segundo um dos diretores do Comitê do Baixo Paraíba, o pesquisador João Gomes de Siqueira, o sal na água percorre por baixo do rio e alcança áreas bem maiores que a entrada da língua salina, que é o que pode ser visto pela superfície.

“O avanço do mar acontece há anos na região, mas desta vez está pior por causa da menor força do rio. Nós já apresentamos esta situação da salinização ao Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap), mas ainda não obtivemos uma ação específica para atender a esta emergência”, afirmou Siqueira.
Já a vice-presidente do Ceivap, Vera Lúcia Teixeira, informou que várias reuniões têm sido realizadas para discutir a situação do rio.


“A questão da escassez é uma questão séria. Essa seca já é a pior e já estamos sentindo as consequências. O rio devia ser tratado como ouro”, comentou.



FONTE: G1.COM

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