Cineclube retorna com filme político.

Marcos Curvello
Foto: Rodrigo Silveira
O Cineclube Goitacá exibiu nesta quarta-feira (27) o filme argentino “Garage Olimpo” (Idem, 1999), que abriu a quarta mostra, “Golpe!”, e marcou o retorno das atividades após um hiato de três meses. Quem apresentou o filme e conduziu o debate que se seguiu à sessão foi o advogado e publicitário Gustavo Oviedo, que, argentino radicado em Campos, trouxe à discussão informações de quem viveu parte da ditadura, instaurada após a derrubada do presidente Arturo Umberto Illia, em 28 de junho de 1966, pelo general Juan Carlos Onganía, e a expectativa da redemocratização e da punição dos militares, após 1973.
Dirigido por Marco Bechis, cineasta chileno de ascendência franco-suíça e italiana que viveu a juventude entre São Paulo e Buenos Aires, o filme mostra de maneira crua os horrores praticados pelos militares durante o período que batizaram de “Revolução Argentina”. Com um apelo semidocumental, “Garage Olimpo” acompanha Maria (Antonella Costa), uma jovem professora e militante de esquerda que acaba pega por agentes do exército e levada para o local que dá título ao filme, um centro de tortura, em cujos porões e celas os prisioneiros são brutalmente interrogados, drogados e levados para os chamados “vôos da morte”, em que são jogados vivos e inconscientes no Oceano Atlântico a partir de aviões militares.
De acordo com Oviedo, o trabalho traz uma narrativa bastante fiel dos fatos, muitos deles reais.
— Bechis, que escreveu o longa ao lado de Lara Fremder e Caterina Giargia, coletou histórias reais de vítimas das ditaduras e as costurou na trama. Momentos como aquele em que um torturador pede a um dos cativos para que conserte o equipamento utilizado para aplicar choques durante os interrogatórios e, diante da recusa deste, ameaça usar a fiação de 220v para seguir com seu trabalho, são verídicos.
Cineasta esteve na oposição à ditadura
Bechis, que mergulhou também no drama indígena brasileiro em “Terra vermelha” (“Birdwatchers: La terra degli”, 2008), tem uma história pessoal com a “Revolução Argentina”. Ele se envolveu na oposição à ditadura e acabou expulso do país em 1977, quando se instalou em Milão, onde vive até hoje. De acordo com Oviedo, porém, seu olhar sobre o tema é “desapaixonado”.
— O diretor lança sobre o tema um olhar muito cru. Ele contrapõe a rotina burocrática dos torturadores, que batem ponto e obedecem a determinados horários de trabalho, como se estivessem em um escritório, ao sofrimento das vítimas. Bechis também é muito eficiente em mostrar que, a despeito da sensação de angústia e de terror que reinava naqueles porões, a sociedade lá fora desconhecia o que estava acontecendo.
Por fim, na cena final, que mostra um avião militar partindo para o “vôo da morte”, ao som do “Hino à bandeira”, Oviedo fala da experiência dos argentinos com este episódio de seu passado recente.
— Esta cena é muito forte para nós, argentinos. Cursei a escola primária durante a ditadura e me lembro de ter que cantá-lo, junto dos demais alunos, no hasteamento da bandeira. Vê-lo relacionada a estas atrocidades é algo que causa comoção.
Folha da Manhã.
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